Publicação na revista Moldes & Plásticos “As indústrias de Moldes e de Injeção de Plásticos – Na encruzilhada, como moldar o futuro”
1 – O passado é conhecido
No que à indústria de moldes diz respeito é incontornável começar por referir a Aníbal H. Abrantes que em 1945 produziu o primeiro molde de injeção para plástico.
No seguimento do sucesso daquela empresa, começaram a estabelecer-se outras empresas produtoras de moldes para plásticos, nas cidades da Marinha Grande e Oliveira de Azeméis, os centros tradicionais da indústria de vidro. Esta multiplicação de empresas cria capacidade e dimensão crítica para assimilar as tecnologias oriundas dos países mais desenvolvidos e acrescentar-lhes, através da engenharia, soluções desenvolvidas pelas empresas nacionais. Das máquinas comandadas por operadores passou-se rápida e seguramente para equipamentos de comando numérico (CNC), para os equipamentos funcionando a altas velocidades, para a robotização e mesmo para a automação. O contributo do Centimfe foi determinante para o desenvolvimento e consolidação tecnológica. A capacidade tecnológica passou a ser uma mais valia do setor, distintiva e com impacto na capacidade produtiva, na produtividade e na qualidade.
Simultaneamente, e com forte apoio da CEFAMOL, verificou-se um dinâmico processo de internacionalização, que levou os moldes fabricados em Portugal a serem utilizados num elevado número de países e de indústrias.
Do lado da transformação de plásticos o ritmo foi diferente, mas, ainda assim, capaz de proporcionar resposta às necessidade e expetativas dos clientes. Da produção de termoendurecíveis passou-se para a produção massiva de termoplásticos em empresas cada mais “limpas”, organizadas, bem equipadas tecnologicamente e com capacidade de apoiar os clientes na conceção das soluções mais fiáveis, atrativas e a custos mais baixos. Este movimento teve forte impulso a partir do início dos anos 90, sendo que, hoje, as empresas de injeção de plásticos são altamente competitivas nos mercados internacionais
2 – A realidade atual é “sentida”
Uso a palavra “sentida” numa dupla perspetiva. Por um lado, está bem caraterizada, por outro, tem um impacto cada vez mais negativo nas empresas.
Do ponto de vista externo às empresas assiste-se a uma quebra na procura, que é acompanhada por uma quebra nos preços. A complicar ainda mais a situação assistimos a uma alteração muito negativa nas condições de pagamento e a uma agressiva política comercial dos grandes clientes/compradores. Como se já bastasse verifica-se uma subida, em muitos casos fortemente acentuada, das matérias primas e componentes. Para finalizar este brevíssimo resumo mantemos a crónica falta de recursos humanos qualificados, situação que se arrasta há vários anos e para a qual não se vislumbram iniciativas que efetivamente alterem este estado de coisas que tanto afeta a produtividade, a eficiência e a qualidade.
Do ponto de vista interno mantém-se fortes problemas de organização (produtiva e de suporte) e de métodos de trabalho, relativamente aos quais não existem, na maior parte das empresas, abordagens apropriadas. Acresce a urgente necessidade de reforço, ou mesmo introdução, de modelos de gestão, problema relativamente ao qual parece haver muito pouca preocupação. Basta, a este propósito, constatar a ausência de medidas de apoio no último Quadro Comunitário, no PRR e no que se perspetiva para o PT 2030. Se não se apostar em modelos de gestão adequados, que não precisam de ser complexos, tudo o resto tem maior risco de colapsar.
Como referi no início a realidade é bem “sentida” pelas empresas e, pelos dados disponíveis, só tenderá a complicar-se.
3- Caminhos / Vias para a Sustentabilidade
Sem nenhuma pretensão de que tenho a “solução”, como se houvesse “solução”, apenas descrevo seguidamente alguns pontos de vista que ajudem a mitigar os problemas e preparar as empresas para criarem situações e contextos que lhes sejam mais favoráveis.
- Assim, entendo que a aposta no associativismo ativo e na cooperação ente empresas do mesmo setor e intersectorial, que já foi muito forte no passado e permitiu alcançar resultados notáveis, deve estar na “agenda” de cada empresário.
- Independentemente do setor deve existir um reforço significativo nos “serviços”, para além do produto, e no valor acrescentado ao cliente. Assegurar a proximidade ao cliente e o estabelecimento de parcerias é uma boa forma de garantir a fidelização dos clientes o que, além de incrementar a possibilidade de sucesso comercial, reduz os custos de angariação.
- Reforçar a abordagem e a capacidade comercial, recorrendo, por exemplo, à “investigação operacional” na formulação de orçamentos.
- Apostar claramente em modelos de gestão e governação ajustados às caraterísticas e capacidades de cada empresa.
- Apostar na eficiência, seja produtiva, seja de suporte, de modo a reduzir custos e incrementar a competitividade.
- Finalmente, que o número de caracteres já se esgotou, insistir na procura de novos mercados e segmentá-los face ao portefólio de cada empresa.
Eng. José Morais
CEO da Lexus-Consultores